a paixão devora olhos e corações
de épocas e sentidos com que
passamos horas e dias frios
para chegarmos a esse tempo
e encontrarmos o vazio
de não havermos encontrado
a pronúncia exata das palavras
na maneira certa de dizer
estamos aqui e a paixão
permanece em nossos olhos
embaçados em lágrimas
de reconhecimento
como naquelas horas
e como serão em futuros
tempos de mãos entrelaçadas
chegamos sem esquecer e sobrecarregamos
a memória e as lembranças com as imagens
nas músicas em altos sons
e perguntas
presas
em gargantas
curtas
de desejos e secura
a nossa história recortada em quadros
passados lentamente entre as lentes
dos óculos que usamos e nos servimos
para enxergamos o que não vimos cedo
estávamos cegos em blindagens jovens
e tínhamos a certeza de que as incertezas
seriam dos caminhos as trilhas e as armadilhas
que não nos pegariam na passagem
essa paixão extravasa a hora
fôssemos pessoas espiando
o lado de fora de cada um
meros espantalhos em hastes
de empregos e desesperanças
de que tudo termine logo após
o instante em que os corpos
se desencontrem
somos mais que paixões ardentes
dos dentes cravados das serpentes
ávidos pelo fim da história.
Mais uma vez, Paccelli, gratíssimo pela disponibilização do espaço. Abraços, Pedro.
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