Após ter deambulado, pelas
velhas ruas da cidade do Porto, esperei na Trindade, o “metro”, com destino a
Santo Ovídio.
Diante mim sentou-se casal,
mais a filha – mocinha esbelta de seus quinze anos. Conversavam animadamente, a
meia voz.
Mal entrou a composição na
ponte de D. Luís I, a rapariguinha soltou um grito de admiração, e voltando-se
para a mãe, exclamou estonteada:
- “Mãe! Olha que lindo! …Nunca
vi paisagem tão bela! …”
Olhei pela vidraça – de um lado
o casario de Gaia, do outro a cascata da cidade do Porto, encimada pela vetusta
Sé. Entalado entre margens, o rio Douro, doirado pelo Sol do crepúsculo,
reluzia em escamas fosforescentes, que iam do azul-lóio ao verde vivo.
Para o Candal, o azul do céu
tornava-se carmíneo, com leves pinceladas de vermelho, desmaiando para violeta.
E sobre a majestosa apoteose de cor, o disco doirado do Sol, como hóstia de luz
manchada a sanguínea.
Era realmente espectáculo
maravilhoso, digno de ser pintado ou fotografado por mão de mestre.
Essa beleza deslumbrante
repete-se diariamente nas tardes quentes de Verão. De tanto a ter visto e
apreciado, olho-a quase sem a ver.
Também por viveremos, durante
anos, com as nossas companheiras, deixamos de ver as qualidades que possuem.
Por isso, muitos casamentos se desfazem.
Certamente, se não tivéssemos
observado predicados, que apreciamos, não teríamos casado.
Verdade é que o trato diário
desvenda vícios e humor camuflados no noivado, mas a razão principal das
desavenças é de termos deixado de ver o que nos levou a escolher a nossa
companheira de jornada.
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