terça-feira, 1 de julho de 2014

SOBRE ESTAS DURAS, CAVERNOSAS FRAGAS

Por Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage (Setúbal, 1765 - Lisboa, 1805, Portugal)

Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões n'alma fervendo
Como fervem no pego as crespas vagas;

Razão feroz, o coração me indagas.
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.

Cego a meus males, surdo a teu reclamo,
Mil objectos de horror co'a ideia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo.

Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;

Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.

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