Vasculhei os rascunhos das minhas lembranças e ali estava
negra jovem. Não a cantar cantigas africanas, nem a balbuciar orações para
Oxalá, ou a girar na roda de samba com sua saia rodada, mas sim com um livro
nas mãos a pregar. Negra portadora de boas novas! Tal moça, de mãos calejadas
pregava a palavra de Deus.
Em sua pregação seus olhos brilhavam como estrelas da noite
iluminando a minha sala. Pode parecer exagero meu, ou o meu olhar poético para
aquela cena, mas seu olhar era mesmo puro brilho quando estava a pregar! Cada
palavra em sua prega à certeza de coisas boas por vim, se não a profecia da
vinda de Cristo a esperança por dias melhores.
Consigo queria me
levar com a promessa de uma nova vida. No entanto o que conseguiu foi apenas a
minha atenção. Palavras e mais palavras entravam em meu ouvido de uma forma
totalmente diferente do que ouvida por mim a ler aquele livro. Não o livro
‘’Século XX do meu querido Samuel da Costa’’ e sim aquela que por anos a fios,
não envelhece se renova: a Bíblia! A negra ao fechar o livro, fez uma oração,
nenhum ‘’Pai Nosso, ou uma Ave Maria’’, simplesmente algo do tipo: - Que Deus
esteja nesse lar! Ao partir deixou em minha sala um breve silêncio. Depois de
sua partida fiquei a perguntar-me: O que é uma nova vida senão tentar consertar
os seus erros e recomeçar por si mesmo?
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