quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

OPERA MUNDI: CYBER GODS, EU NÃO DEVERIA ESTAR AQUI!

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

’Emaranhada de sentimentos!

Ofuscaram a minha visão,

Não quero enxergar.

Mas o meu coração é todo dele, 

Entrego-te...! Todo o meu coração.’’

Fabiane Braga Lima

 

            Preso por reluzentes algemas de cristal líquido, usando um impessoal uniforme laranja, de prisioneiro e, as roupas funcionais de investigador de primeira classe, àquela hora, pareciam pertencer a uma outra vida bem distante. E sentado na semiescuridão, em uma sala de interrogatório, Alejandro debruçado, com a cabeça baixa, as mãos seguravam a cabeça e em lutas internas. Entre fatos palpáveis e o que ele imaginava ter acontecido, coisas que o levaram a estar ali, à espera de uma inquirição. Inquirição que ele mesmo fizera muitas vezes, com gente culpada, acusada, pretensamente culpada e sabidamente inocente. E lidar com os fatos e lateralmente fatos imaginados, era o que estava no manual, que ele mesmo tinha decorado, linha por linha.

            Uma intensa luz esférica amarela, surgiu a poucos metros de Alejandro, a esfera evanesceu e se dividiu em mais duas, iluminando a sala, revelando a frente, dois enormes guardas pretorianos, fortemente armados que usavam máscaras de gás e óculos de visão noturna autoajustáveis. As duas sentinelas que eram de patentes intermediárias e olhavam para Alejandro através dos óculos de visão noturna. Alejandro, outrora investigador de primeira classe, sentiu em seu corpo, os escaneamentos simultâneos dos óculos de visão noturna, dos guardas pretorianos. O abalado Alejandro, lentamente levantou a cabeça, aguardando o que viria, e as três esferas se transmutaram em três figuras, era o comitê correcional do serviço de segurança. Os rostos de um homem negro idoso, uma jovem mulher oriental e de uma mulher caucasiana de meia idade e Alejandro esperou o pior do ruim. Os dois oficiais pretorianos, que apontavam as armas de pulso magnético, para Alejandro, eles recolheram as armas, bateram os cascos, em marcha se retiraram do recinto.

     Conhecidos como deuses cibernéticos, as três figuras, à frente de Alejandro, eles eram avatares, membros proeminentes e permanentes do temido e poderoso comitê correcional do aparato de segurança. Eram membros não identificados, para não sofrerem represálias e pressões, de quem quer que fosse. 

            — Para o registro, o senhor é o investigador de primeira classe Alejandro Contreras Allendes, patente AS2-7524! Senhor Alejandro Contreras Allendes, investigador de primeira classe, membro efetivo do serviço de inteligência do serviço de segurança. O senhor, está temporariamente suspenso de todas as suas atribuições! O senhor, será inquirido por este comitê de correção disciplinar e o senhor não pode usar o direito de não responder ou mesmo se manter calado, diante deste comitê de correção disciplinar! — Disse o avatar negro, a voz metálica ecoou pela pequena sala. As algemas de cristal líquido desvaneceram e Alejandro ficou livre.  

            — O senhor Alejandro Contreras Allendes, o senhor está entendendo a vossa situação? — Disse a mulher oriental, em uma voz doce, calma e cheia de autoridade.

            — Por que estou preso? — Perguntou o indignado Alejandro.

            — Vamos um passo por vez, senhor Alejandro Contreras Allendes! — Respondeu a mulher caucasiana. 

            — Vamos aos fatos! — Disse a mulher negra e prosseguiu — A exatos um mês e três dias, no Hotel beira-mar de estadia prolongada, localizada na zona portuária, em uma operação secreta de combate ao crime organizado. Uma unidade da guarda pretoriana, que foi atingida por uma onda magnética. Foram oito pretorianos, que foram postos fora de combate. O senhor foi o investigador do caso?

            As informações chegaram na mente de Alejandro, de forma confusa e uma voz ecoou na mente do investigador: — Pensou mesmo que tu irias escapar de mim! — Era uma voz estranha, uma língua alienígena, que Alejandro entendeu perfeitamente. Um cheiro de pólvora queimada, um forte estrando e um e uma forte dor no peito acometeram Alejandro, àquela hora extrema.

            — Lembro vagamente! — Disse Alejandro começando a lembrar dos fatos e prosseguiu — Não investiguei o caso da ação dos pretorianos e sim outro caso, ocorrido no mesmo lugar. Um corpo foi encontrado no mesmo hotel, nesse mesmo dia! 

            — Os casos estão entrelaçados? — Perguntou o avatar negro.

            Fragmentos de fatos, começaram a chegar de forma avassaladora, na conturbada mente do investigador Alejandro. 

            — Isto eu não sei dizer, o fato é que Roberto Martínez, o magnífico reitor, foi encontrado morto, no andar de cima do referido hotel e a operação de combate ao crime organizado, aconteceu nos andares inferiores. Dois casos separados, que constatamos com o decorrer das investigações que fiz. — Relatou Alejandro, sem saber o porquê.

            — Temos aqui o vosso relatório final do caso! — Disse o avatar negro e prosseguiu — Que o quinto andar, foi reservado pelo próprio vitimado Roberto Martínez e decora os motivos! O que não está no relatório final.

            — O quinto andar, foi reservado para reuniões de uma confraria semi-secreto, o Clube dos cinco e popularmente mais conhecido como o clube dos assassinos! — Relatou Alejandro, disse como se fosse um texto decorado e o fato não passou incólume ao comitê de correção.

            — Investigador de primeira classe Alejandro Contreras Allendes, patente AS2-7524! O senhor é membro do clube dos cinco, mais conhecido como clube dos assassinos? — Perguntou o avatar negro.

            — Como o clube dos cincos é uma confraria, mesmo sendo semi-secreta, eu sendo um possível membro eu não posso dizer que sim! — Disse Alejandro em modo automático, proferindo as palavras sem saber o motivo.

            — Para o registro o investigador de primeira classe Alejandro Contreras Allendes, patente AS2-7524 se recusou a responder! — Disse o avatar negro e prosseguiu — Quero lembrar que o senhor não pode usar o direito de não responder ou mesmo se manter calado diante deste comitê.  

            — Eu não deveria estar aqui! — Disse o desesperado Alejandro.

Continua...

              

Texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poetisa, contista, cronista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

 

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