quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

SOLITUDE

Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)

 

Crescemos ouvindo a sociedade dizer que se sentir só é uma espécie de fracasso, que devemos viver rodeados de pessoas porque se assim não for temos problemas sérios a resolver. Isso pode ser considerado até certo ponto quando a vida nos coloca em situações de verdadeiro xeque-mate, ou seja, aquela situação não tão inesperada assim, muitas vezes previsível — estava ali se quiséssemos enxergar —, mas deixamos o vento soprar, mesmo sem estar muito de acordo.

Muitas vezes, pelo medo de estar só, abrimos mão de valores não tão necessários para os outros, mas extremamente importantes para nós. Pensar nos outros é saudável, altruísta, bonito. Mas até onde pensar nos outros nos torna órfão de nós mesmos? Mas calma, muita calma! Não estou a dizer que devemos ser egoístas, embora se soubermos ser só um pouquinho não há mal nenhum nisso, muito antes pelo contrário. Esse se tornar órfão de si mesmo, algo tão negativo para a maioria, pode ser o princípio de uma liberdade, a partir do momento que passamos a também pensar em nós de uma forma um pouco diferente, mais autêntica e verdadeira, sem a necessidade da aprovação do outro o tempo todo, mesmo os mais próximos.

A vida é contraditória e, por isso mesmo, encantadora. A partir do momento que sentimos uma grande perda, passamos a ver o quão efêmera ela, a vida, é. E, por isso, ganhamos mais presença de nós. Passamos a nos acolher com mais carinho e a descobrir e redescobrir muitas coisas, inclusive a beleza da nossa solitude, essa capacidade consciente de estar só, mas sem associação de tristeza e dor.

Estar em estado de solitude é poder admitir a própria solidão como a mais linda presença. É quando olhamos o nosso interior e nos damos a oportunidades de aceitar quem somos, o que gostamos, o que queremos e não queremos, nossas forças e fraquezas e deleitar-se com isso como em um jogo da verdade onde só ela existe.

Ninguém é obrigado a concordar conosco, mas nós também não somos obrigados a concordar com o mundo.

Esse sentimento é libertador porque nem sempre estar rodeado de pessoas não nos priva da solidão. Porém, essa é um pouco diferente da outra, nossa, necessária. Àquela aprisiona, essa nos reconecta. Que aprendamos a buscar as pessoas não para fugir de nós mesmos, mas para compartilhar até onde for necessário. Que aprendamos a soltar. A vida é água que flui livremente entre os dedos e muitas vezes só temos as nossas próprias mãos.

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