Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
‘’Lembranças vagueiam, exausta- me......
E tudo que mais quero é tua companhia
Teu jeito afável de ser, tua alma, coração. ’’
Fabiane Braga Lima
—Acorda Alice! Então? Encontrou o que tanto procuravas? — Disse Gaya de forma gélida.
Aurora, tentou abrir os
olhos, que queimavam em chamas, a leve dor de cabeça e a boca seca, lhe davam
uma aparente impressão de uma noitada bem curtida e em má companhia e em algum
lugar nada recomendado! Aurora a programadora, levou o braço ao lado direito de
forma abrupta, que só encontrou o vazio e os sentimentos de alívio e frustração
se misturavam.
Os fleches, vieram e
preencheram as vacuidades da consciência, do sonho e do sono, as lembras, tirar
o delicado diadema amarelo da cabeça foi a consequência natural do tomar de
consciência. Aurora, bem queria ficar deitada para sempre e para sempre vagar
na terra dos sonhos da realidade simulado. Mas a realidade sempre se impõe e
voz fria e pungente de Gaya, iria lhe impor a hirta realidade.
— As frequências
pulmonares, está um pouco acima do normal, assim como a frequência cardíaca e a
frequência sanguínea. E sugiro que faz um hemograma e demais exames senhora
Aurora...
— Eu não sei dos motivos,
de eu te dar o tom de voz da minha mãe! Gaya! Eu me odeio pelas manhãs! —
Sentenciou Aurora em voz alta! E levou a mão a testa, o desejo de jogar para
longe o diadema amarelo que lhe adornava, foi um sentimento passageiro. Aurora,
tirou o adorno na cabeça e segurava o fino e pesado diadema de ouro, a
programadora sabia que o guardaria no cofre, como a coisa deveria ser.
— O café está pronto e
mesa está posta! — Anunciou Gaya.
— Gaya! — Sussurou a dona
da casa!
— Madame? — Perguntou a
inteligência artificial.
— Tire este teu sorriso
besta da cara! — Disse Aurora, que na verdade queria dizer isto para a própria
mãe, que a acordava toda a dia, todas as manhãs, com um sorriso na face, sobre
qualquer momento da vida, de intemperares e de dias amenos.
— Madame eu não entendo! —
Gaya estava com voz tremula o que de certa forma divertiu Aurora, não que ela
gostasse de ver os outros sofrerem, nem que odiava a mãe, ouvir a voz da mãe
apavorada. E que as manhãs de felicidade incondicional da mãe, pesava nas
lembras da programadora de computadores, a mãe sempre feliz e tentando faz os
que a rondava felizes.
E a realidade se impôs,
ter que levantar da cama e processar a noite anterior, era premente e Aurora
tirou os dois pequenos eletrodos das têmporas. A programadora, levantou a
coberta de linho egípcios, somente desse momento que ela lembrou que estava completamente
nua. Sentou na borda da cama box king size, caminhou até o cofre digitou a
senha, abriu o cofre e guardou o diadema amarelo. Foi até a cômoda com cabideiro
e vestiu um roupão, se dirigiu até a sala de estar, em um interlúdio lento e
longo de um dia que merecia ser doloroso e revelado. Depois de sentar à mesa,
ser servido por dois robôs domésticos, o barulho das esteiras em movimento, não
aborreceram Aurora naquela manhã outonal e sonolenta.
Foi a primeira vez que
Aurora realmente degustou o café na manhã na total solitude do silêncio
absoluto. E foi a primeira vez que Aurora desfez a mesa, lavou a louça
pacientemente, a programadora parecia uma outra pessoa. Gaya a assistente
pessoal, processava a cena e só teve pistas quando acessou a tratava as imagens
que os eletrodos carregavam o seu banco de dados. Uma atribuição que Aurora a
incumbira, uma tarefa que em nada tinha a ver com a sua programação, uma tarefa
que deveria ter a supervisão de vários profissionais. Pois as imersões que
Aurora fazia, deveria ser supervisionada por vários profissionais, equipamentos
médicos e remédios ainda em testes. Demandava um computador quântico a
processar uma gama de variada de qubits, dividir realidade e irrealidade em
imagens sobrepostas. O que é fruto da uma imaginação fértil, que se mistura com
lembranças perdidas resgatadas, tudo isto enquanto preserva a integridade
física e psíquica das pessoas imersas no estágio de sono profundo. Por questões
técnicas, Gaya não conseguia processor as imagens processadas, somente quando
Aurora inseria fórmulas matemáticas simples e complexas que as imagens e sons
se alinhavam, se tornaram nítidas e coerentes.
E Gaya pesquiso aquele
indutor do sono e do sonho, o diadema amarela, que a inteligência artificial,
pesquisou a fundo e não teve ideia de onde o objeto vinha e onde Aurora a tinha
encontrado.
Deixar a estação de
trabalho preparada, depois do café matinal, era uma das atribuições de Gaya,
depois era passar a agenda do dia, a doméstica e após a laboral. Tudo isso
enquanto Aurora, se preparar para o trabalho, mas naquele dia as coisas foram
um tanto diferentes. A programadora de computadores, terminou de lavar a louça
e sem nada disser se encaminhou para a escritório, ainda usava o roupão. Levou
o dedo indicador até o bracelete, a uma tela de se projetou na escrivaninha,
uma função que cairia a Gaya, depois de um comando de voz da programadora de
computador. Aurora levou o dedo indicador de novo e a cadeira embutida se
desdobrou, a programadora se sentou apertou no bracelete de novo e um teclado
embutido na escrivaninha surgiu. Aurora quebrou a rotina de trabalho, não que
Gaya não estivesse programada para reconhecer quebras de protocolos e rotinas,
pois os acidentes e incidentes também fazem parte rotina.
Aurora estava agindo como
a assistente pessoal Gaya não existisse e estava ligado no modelo orgânico,
quando o usuário, desliga a inteligência artificial e passa a usar os
periféricos de entradas e saídas, parcialmente ou totalmente. Aurora, fez se projetar uma janela digital
amarela.
— Ivanka! Bom dia minha! —
Falou Aurora e Gaya percebeu que o tom voz da programadora de computadores
tinha mudado! A assistente pessoal, notou que a Aurora não ligou o filtro de
imagem e aparecei na tela-digital de roupão e a outra do outro lado da
tela-digital pareceu não se importar!
— Tu encontraste o
burilador de inexatidões? Disse Ivanka de forma casual.
Fragmento
do livro: Sono paradoxal, texto de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista
em Itajaí, Santa Catarina.
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