quarta-feira, 1 de outubro de 2025

OPERA MUNDI: A REUNIÃO NA RUA L, DE VOLTA DA REALIDADE SIMULADA!

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

‘’Lembranças vagueiam, exausta- me......

E tudo que mais quero é tua companhia

Teu jeito afável de ser, tua alma, coração. ’’

Fabiane Braga Lima

 Acorda Alice! Então? Encontrou o que tanto procuravas? — Disse Gaya de forma gélida.

          Aurora, tentou abrir os olhos, que queimavam em chamas, a leve dor de cabeça e a boca seca, lhe davam uma aparente impressão de uma noitada bem curtida e em má companhia e em algum lugar nada recomendado! Aurora a programadora, levou o braço ao lado direito de forma abrupta, que só encontrou o vazio e os sentimentos de alívio e frustração se misturavam.

          Os fleches, vieram e preencheram as vacuidades da consciência, do sonho e do sono, as lembras, tirar o delicado diadema amarelo da cabeça foi a consequência natural do tomar de consciência. Aurora, bem queria ficar deitada para sempre e para sempre vagar na terra dos sonhos da realidade simulado. Mas a realidade sempre se impõe e voz fria e pungente de Gaya, iria lhe impor a hirta realidade.

          — As frequências pulmonares, está um pouco acima do normal, assim como a frequência cardíaca e a frequência sanguínea. E sugiro que faz um hemograma e demais exames senhora Aurora...

          — Eu não sei dos motivos, de eu te dar o tom de voz da minha mãe! Gaya! Eu me odeio pelas manhãs! — Sentenciou Aurora em voz alta! E levou a mão a testa, o desejo de jogar para longe o diadema amarelo que lhe adornava, foi um sentimento passageiro. Aurora, tirou o adorno na cabeça e segurava o fino e pesado diadema de ouro, a programadora sabia que o guardaria no cofre, como a coisa deveria ser.

          — O café está pronto e mesa está posta! — Anunciou Gaya.

          — Gaya! — Sussurou a dona da casa!

          — Madame? — Perguntou a inteligência artificial.

          — Tire este teu sorriso besta da cara! — Disse Aurora, que na verdade queria dizer isto para a própria mãe, que a acordava toda a dia, todas as manhãs, com um sorriso na face, sobre qualquer momento da vida, de intemperares e de dias amenos.

          — Madame eu não entendo! — Gaya estava com voz tremula o que de certa forma divertiu Aurora, não que ela gostasse de ver os outros sofrerem, nem que odiava a mãe, ouvir a voz da mãe apavorada. E que as manhãs de felicidade incondicional da mãe, pesava nas lembras da programadora de computadores, a mãe sempre feliz e tentando faz os que a rondava felizes. 

          E a realidade se impôs, ter que levantar da cama e processar a noite anterior, era premente e Aurora tirou os dois pequenos eletrodos das têmporas. A programadora, levantou a coberta de linho egípcios, somente desse momento que ela lembrou que estava completamente nua. Sentou na borda da cama box king size, caminhou até o cofre digitou a senha, abriu o cofre e guardou o diadema amarelo. Foi até a cômoda com cabideiro e vestiu um roupão, se dirigiu até a sala de estar, em um interlúdio lento e longo de um dia que merecia ser doloroso e revelado. Depois de sentar à mesa, ser servido por dois robôs domésticos, o barulho das esteiras em movimento, não aborreceram Aurora naquela manhã outonal e sonolenta.

            Foi a primeira vez que Aurora realmente degustou o café na manhã na total solitude do silêncio absoluto. E foi a primeira vez que Aurora desfez a mesa, lavou a louça pacientemente, a programadora parecia uma outra pessoa. Gaya a assistente pessoal, processava a cena e só teve pistas quando acessou a tratava as imagens que os eletrodos carregavam o seu banco de dados. Uma atribuição que Aurora a incumbira, uma tarefa que em nada tinha a ver com a sua programação, uma tarefa que deveria ter a supervisão de vários profissionais. Pois as imersões que Aurora fazia, deveria ser supervisionada por vários profissionais, equipamentos médicos e remédios ainda em testes. Demandava um computador quântico a processar uma gama de variada de qubits, dividir realidade e irrealidade em imagens sobrepostas. O que é fruto da uma imaginação fértil, que se mistura com lembranças perdidas resgatadas, tudo isto enquanto preserva a integridade física e psíquica das pessoas imersas no estágio de sono profundo. Por questões técnicas, Gaya não conseguia processor as imagens processadas, somente quando Aurora inseria fórmulas matemáticas simples e complexas que as imagens e sons se alinhavam, se tornaram nítidas e coerentes. 

       E Gaya pesquiso aquele indutor do sono e do sonho, o diadema amarela, que a inteligência artificial, pesquisou a fundo e não teve ideia de onde o objeto vinha e onde Aurora a tinha encontrado.  

          Deixar a estação de trabalho preparada, depois do café matinal, era uma das atribuições de Gaya, depois era passar a agenda do dia, a doméstica e após a laboral. Tudo isso enquanto Aurora, se preparar para o trabalho, mas naquele dia as coisas foram um tanto diferentes. A programadora de computadores, terminou de lavar a louça e sem nada disser se encaminhou para a escritório, ainda usava o roupão. Levou o dedo indicador até o bracelete, a uma tela de se projetou na escrivaninha, uma função que cairia a Gaya, depois de um comando de voz da programadora de computador. Aurora levou o dedo indicador de novo e a cadeira embutida se desdobrou, a programadora se sentou apertou no bracelete de novo e um teclado embutido na escrivaninha surgiu. Aurora quebrou a rotina de trabalho, não que Gaya não estivesse programada para reconhecer quebras de protocolos e rotinas, pois os acidentes e incidentes também fazem parte rotina.  

          Aurora estava agindo como a assistente pessoal Gaya não existisse e estava ligado no modelo orgânico, quando o usuário, desliga a inteligência artificial e passa a usar os periféricos de entradas e saídas, parcialmente ou totalmente.  Aurora, fez se projetar uma janela digital amarela.

          — Ivanka! Bom dia minha! — Falou Aurora e Gaya percebeu que o tom voz da programadora de computadores tinha mudado! A assistente pessoal, notou que a Aurora não ligou o filtro de imagem e aparecei na tela-digital de roupão e a outra do outro lado da tela-digital pareceu não se importar!

          — Tu encontraste o burilador de inexatidões? Disse Ivanka de forma casual.   

Fragmento do livro: Sono paradoxal, texto de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.

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